Linha 5
Era ali que ela saía. Ali era onde ela se despedia de vez do passado e iniciava uma nova vida longe de quem lhe destruiu a velha. Freddie Mercury gritava-lhe "it's a beautiful day and no-one is gonna stop me now" e era isso que ela queria ouvir. Levantou-se e saiu. Depois de uma luta intensa com as malas pesadas que trazia consigo, estava metida no rebuliço da estação. Gente com trolleys para trás e para a frente. Gente com pressa, outros com tempo. Gente com destino e alguns perdidos na confusão de horarios. Gente como ela e como todos aqueles que conhecera. Com uma enorme força de vontade, decidida a fazer da decisão uma daquelas em que não se volta atrás, ela procurou uma saída. Ou uma entrada. Uma entrada nessa tal vida nova que ela tanto desejava, uma entrada que escondesse a necessidade de fugir que tinha. Arrogância humana pensar que se fazem novas vidas. O passado faz parte de nós tanto quanto o presente e mais que o futuro. Hoje somos o que fizémos e amanha vamos fugir do que não gostámos.
Mas ela não sabia disso. Sabia, como todos sabemos. Mas o caminho mais fácil escondia a verdadeira fuga na mudança. Mas nem sempre o caminho mais fácil a curto prazo o é a longo prazo. E foi por isso que passado menos de um mês ela estava de novo na estaçao. Sem ideais utópicos, assumindo o que sempre soubera e com as decisões irredutíveis atropeladas. Voltava porque descobrira que tinha que enfrentar o que a havia deitado abaixo. Voltava porque sabia que tinha que voltar e fechar um capítulo da sua vida.
Linha 5 de novo. Do lado contrario. A solução não era mudar de vida, construir uma vida nova. Era reconstruir a sua, a de sempre. Era fazer uma vida renovada.