segunda-feira, abril 30, 2007

Life is a song

E no final, o resumo de um ano cabe em poucas linhas. Todas aquelas alturas que se adivinhavam penosas passaram a voar. Aquelas que se imaginavam divinas fizeram jus ao provérbio. Tudo em corrida, não mais de cinco músicas. Um ano guardado num qualquer on-the-go que silencia sem bateria farto de ouvir as mesmas músicas. Mais farto ainda de gostar delas. Este ano vou roubar mais felicidade ao tempo. Promessas esquecidas nas consequências de minutos vividos a correr com medo de gastar todos os cartuchos de uma vez. E depois a conclusão final de que nada muda, a natureza realmente só se transforma. Mudam os cenários, mas a saudade dói da mesma maneira e o orgulho consome com a já conhecida arrogância. O final ninguém o conhece embora alguns o vaticinem para ontem. A maioridade alcançada num dia desperdiçada em dezenas de decisões. O síndrome do peter-pan a acordar os dias, a preguiça a matar as noites. Mas de Galileu e menos de Socrátes valem a incongruência de todas as letras juntas em pedidos de ajuda disfarçados de ultimatos. A mão a empurrar para a porta da seriedade e os pés a travarem com o desejo de inocência perdida em cantos que não conhecem arrependimento. A voz incessante a mandar fazer o que o coração não reconhece. A vontade de acreditar em começos do zero, em pedir uma segunda oportunidade lá ao santo dos desencontros dos que chegam sempre tarde demais. O cansaço perdido em innuendos que esgotaram a força para esconder o pó desalinhado que se acumula na estante no buraco de um livro que tombou bruscamente. A certeza da razão esbatida por torneiras abertas de algo que decerto não é tão límpido como a água. A boleia do always-on-my-mind sempre ao curvar da esquina a zarpar antes da sirene. E a sombra que persegue os silêncios, esse sinnerman que insiste em tapar-se com chapéus que lhe escondem a emoção mas não existência. O amanhã vendido a ideais de cuja utopia se começa a desconfiar. A fome de mundo a despertar aquilo que mais tarde serão rugas. Os machados pesados a enterrarem feridas por cicatrizar que temem em não aceitar o final merecido. Rios de choro que esperam que o ciclo das águas lhes ensinem outro caminho. A solução da inequação perdida no bolso do casaco de Inverno. A prova dos noves que exige mais ginástica do que a que o corpo permite. Um ano. Não o melhor, não o pior. E por favor, não o último.